segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sobre virgens e pseudo-vampiros: Parte II


No texto passado fiz uma breve exposição das duas principais obras literárias que fundamentam a estética vampiresca contemporânea, e terminei o texto afirmando que Crepúsculo não guarda nenhum dos elementos das histórias de vampiros, consagrados por Drácula e Entrevista com o Vampiro. Bom, o suspense acabou; vamos ao resto da depreciação, digo, da crítica.

Uma coisa óbvia aos amantes de histórias de vampiros ocorre a primeira vista da estória: não há horror, ou sangue sendo derramado, ou humanos sendo violados por presas sedentas. Muito menos o clima gótico, pesado, sombrio, típicos das narrativas dos sangue-sugas. Por Akasha, Nosferatu, de 1922, mudo e monocromático, é mais gótico que isso! Aquela sensação no estômago do fã só piora quando somos apresentados a Família Cullen (antes gostaria de pedir sinceras desculpas, pois este crítico simplesmente suprimiu as características de cada membro da pretensa família demoníaca de Stephanie Meyer, pois isso implicaria em uma melhor comparação de cada um dos personagens à outra famosa família que eu mencionarei a frente). É algo tão risível, tão cheio de clichês associados a burguesia norte-americana média, que a única comparação possível seria a família Adams. Nem isso é possível, uma vez que os Adams são carismáticos, divertidos, justamente por serem uma engraçadíssima paródia estereotipada dos filmes de monstros, vampiros e outros bichos das trevas. Diferente da família Adams, cuja a intenção é parodiar, a família Cullen é um reflexo distorcido, uma imitação tosca, sem graça e vergonhosa das outras tradicionais famílias vampirescas do Cramunhão (vide Noivas do Drácula, e a "família" de Louis). Em suma, nada é preservado: nem o clima gótico, nem o drama pessoal da existência vampiresca, nem o o erotismo e muito menos a violência e o sangue. Como demônios sugadores de sangue, os Cullen são ótimos cristãos, o que é ridículo.

O fã ali bem pode argumentar que esse tipo de coisa não poderia ser feita, em vista do público-alvo. Raios, então não chame de estória de vampiros! Chame de Power Rangers, Cinderela, ou alguma coisa da Disney! Por Satã, Edward tem um pele de purpurina! "Ah mas ele é forte e bebe sangue como vampiros". Ha! Só faltava mesmo ele ter uma espada verde e sair voando no meio dos bambus, igualzinho ao O Tigre e o Dragão. Vampiros que não morrem ao sol, que são bonzinhos e não bebem sangue humano, que são belos como estátuas de mármore do Michelângelo (mas nenhum nu), que voam e correm como o Superman, vejam como tudo isso parece muito estrategicamente descrito como... um filme de Hollywood! Sim, é nesse sentido que eu argumento que Crepúsculo não se trata de uma atualização do mito do vampiro, como foi dito no Ambrosia, mas sim uma deturpação do mito moderno do vampiro por uma imaginação tipicamente norte-americana, moldada pela influência de Hollywood. E não deu outra: carreguem isso pro cinema, disse o executivo da indústria do cinema, pois ganharemos milhões com os suspiros virginais. E é justamente sobre estes que tratarei na última parte desta surra de chibata, digo, desta crítica.

Exeunt.

1 comentários:

PedroHMV disse...

No aguardo da última parte! (por que eu tô logado? o_o de onde vem essa minha conta? hahuhuahua)


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