quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sobre virgens e pseudo-vampiros: Parte I


Começarei essa resenha in media res: Crepúsculo é um farsa. Uma distorção bizarra da tradição das histórias de vampiros, iniciada com Drácula de Bram Stoker e expandida de forma primorosa pelas Vampire Chronicles da, hoje cristã, Anne Rice. Talvez até por todo frisson gerado pelo filme, toda a mídia de massa sedenta por doláres tenha enfatizado tanto o rosto dos atores e os suspiros virginais das adolescente, que alguém são ou mesmo corajoso tenha esquecido de fazer um crítica séria. Ou pelo menos chamar a atenção para a qualidade duvidosa da estória. Resumindo, alguém em modo berserk esqueceu de dar suas impressões sobre o filme. Pois eu sou aquele berserk com um teclado, impressões, e muita fúria lexical.

No entanto, como diria meu gentil amigo Jack Estripador, vamos por partes, tudo em prol do bem escrever. Dividirei esta minha humilde resenha em duas partes: na primeira parte, a mais literária, tentarei mostrar por que Crepúsculo não é uma história de vampiros, muito menos uma atualização do mito do bloodsuckers, pois somente os elementos mais hollywoodianos dos vampiros foram preservados, e os outros elementos da estética morta-viva simplesmente descartados. E por que só os elementos hollywoodianos foram preservados? Isto nos leva a segunda parte, onde meu bárbaro antropófago interior possui meus dedos, e argumenta que, afinal, Crepúsculo é uma estória para meninas virgens pré-adolescentes, cujo elemento fantástico na estória não tem outro fim senão alimentar fantasias pré-adolescentes de homens perfeitos.

Vamos aos fatos.

1 - Quero DNA! diz o Conde Vlad Tepes a Stephanie Meyer.

O incúbo, versão masculina da súcubo (Castlevania? Alguém?), é, como sua contraparte feminina, um demônio mitológico que suga as energias sexuais de suas vítimas. Uma vigorosa masturbação mágica, por assim dizer. O mito dos vampiros (que antes, no mundo medieval, eram só mortos que saiam de suas tumbas por não terem recebido os ritos fúnebres apropriados) é reescrito e modernizado por Bram Stoker em seu Drácula justamente nesses termos. A questão é que Drácula não é somente um demônio sangue-suga adepto de uma suruba: Drácula também traz um forte comentário social sobre a promiscuidade e a hipocrisia da sexualidade inglesa do século XIX. E é aqui em que todos os elementos do mito, hoje clássico, são fundamentados: estacas, fogo, luz solar, dormir em caixas de areia de sua terra, sangue jorrando aos litros, está tudo aqui.

Mas Anne Rice, com seu Entrevista com o Vampiro, dá uma passo adiante, como todo grande escritor. Preserva os elementos essenciais do mito (a promiscuidade, a luz solar, as estacas, a mórbida alvura) e adiciona um elemento dramático e humano, imortalizado no conflito de Louis e no cinismo de Lestat. Os vampiros não são mais só demônios sexuais, mas amaldiçoados a uma existência horrenda, presos a um anacronismo eterno e sobretudo, condenados a danação sem fim de se alimentarem e invejarem a vida daqueles que um dia amaram. Louis e Lestat, portanto, tornam-se a metáfora dos conflitos internos da alma do homem ocidental, amaldiçoado como eterno pecador por um lado, e por outro se entregando a promiscuidade destrutiva, amoral, sem qualquer empatia ou remorso pelo outro.

E qual desses elementos nosso Edward, vampiro de Sapucaí, preserva? Com toda certeza, nenhum, caros leitores...

(continua...)

Exeunt

1 comentários:

Anônimo disse...

continua esse texto! ^^


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