Começarei essa resenha in media res: Crepúsculo é um farsa. Uma distorção bizarra da tradição das histórias de vampiros, iniciada com Drácula de Bram Stoker e expandida de forma primorosa pelas Vampire Chronicles da, hoje cristã, Anne Rice. Talvez até por todo frisson gerado pelo filme, toda a mídia de massa sedenta por doláres tenha enfatizado tanto o rosto dos atores e os suspiros virginais das adolescente, que alguém são ou mesmo corajoso tenha esquecido de fazer um crítica séria. Ou pelo menos chamar a atenção para a qualidade duvidosa da estória. Resumindo, alguém em modo berserk esqueceu de dar suas impressões sobre o filme. Pois eu sou aquele berserk com um teclado, impressões, e muita fúria lexical.
No entanto, como diria meu gentil amigo Jack Estripador, vamos por partes, tudo em prol do bem escrever. Dividirei esta minha humilde resenha em duas partes: na primeira parte, a mais literária, tentarei mostrar por que Crepúsculo não é uma história de vampiros, muito menos uma atualização do mito do bloodsuckers, pois somente os elementos mais hollywoodianos dos vampiros foram preservados, e os outros elementos da estética morta-viva simplesmente descartados. E por que só os elementos hollywoodianos foram preservados? Isto nos leva a segunda parte, onde meu bárbaro antropófago interior possui meus dedos, e argumenta que, afinal, Crepúsculo é uma estória para meninas virgens pré-adolescentes, cujo elemento fantástico na estória não tem outro fim senão alimentar fantasias pré-adolescentes de homens perfeitos.
Vamos aos fatos.
1 - Quero DNA! diz o Conde Vlad Tepes a Stephanie Meyer.
O incúbo, versão masculina da súcubo (Castlevania? Alguém?), é, como sua contraparte feminina, um demônio mitológico que suga as energias sexuais de suas vítimas. Uma vigorosa masturbação mágica, por assim dizer. O mito dos vampiros (que antes, no mundo medieval, eram só mortos que saiam de suas tumbas por não terem recebido os ritos fúnebres apropriados) é reescrito e modernizado por Bram Stoker em seu Drácula justamente nesses termos. A questão é que Drácula não é somente um demônio sangue-suga adepto de uma suruba: Drácula também traz um forte comentário social sobre a promiscuidade e a hipocrisia da sexualidade inglesa do século XIX. E é aqui em que todos os elementos do mito, hoje clássico, são fundamentados: estacas, fogo, luz solar, dormir em caixas de areia de sua terra, sangue jorrando aos litros, está tudo aqui.
Mas Anne Rice, com seu Entrevista com o Vampiro, dá uma passo adiante, como todo grande escritor. Preserva os elementos essenciais do mito (a promiscuidade, a luz solar, as estacas, a mórbida alvura) e adiciona um elemento dramático e humano, imortalizado no conflito de Louis e no cinismo de Lestat. Os vampiros não são mais só demônios sexuais, mas amaldiçoados a uma existência horrenda, presos a um anacronismo eterno e sobretudo, condenados a danação sem fim de se alimentarem e invejarem a vida daqueles que um dia amaram. Louis e Lestat, portanto, tornam-se a metáfora dos conflitos internos da alma do homem ocidental, amaldiçoado como eterno pecador por um lado, e por outro se entregando a promiscuidade destrutiva, amoral, sem qualquer empatia ou remorso pelo outro.
E qual desses elementos nosso Edward, vampiro de Sapucaí, preserva? Com toda certeza, nenhum, caros leitores...
(continua...)
Exeunt
No entanto, como diria meu gentil amigo Jack Estripador, vamos por partes, tudo em prol do bem escrever. Dividirei esta minha humilde resenha em duas partes: na primeira parte, a mais literária, tentarei mostrar por que Crepúsculo não é uma história de vampiros, muito menos uma atualização do mito do bloodsuckers, pois somente os elementos mais hollywoodianos dos vampiros foram preservados, e os outros elementos da estética morta-viva simplesmente descartados. E por que só os elementos hollywoodianos foram preservados? Isto nos leva a segunda parte, onde meu bárbaro antropófago interior possui meus dedos, e argumenta que, afinal, Crepúsculo é uma estória para meninas virgens pré-adolescentes, cujo elemento fantástico na estória não tem outro fim senão alimentar fantasias pré-adolescentes de homens perfeitos.
Vamos aos fatos.
1 - Quero DNA! diz o Conde Vlad Tepes a Stephanie Meyer.
O incúbo, versão masculina da súcubo (Castlevania? Alguém?), é, como sua contraparte feminina, um demônio mitológico que suga as energias sexuais de suas vítimas. Uma vigorosa masturbação mágica, por assim dizer. O mito dos vampiros (que antes, no mundo medieval, eram só mortos que saiam de suas tumbas por não terem recebido os ritos fúnebres apropriados) é reescrito e modernizado por Bram Stoker em seu Drácula justamente nesses termos. A questão é que Drácula não é somente um demônio sangue-suga adepto de uma suruba: Drácula também traz um forte comentário social sobre a promiscuidade e a hipocrisia da sexualidade inglesa do século XIX. E é aqui em que todos os elementos do mito, hoje clássico, são fundamentados: estacas, fogo, luz solar, dormir em caixas de areia de sua terra, sangue jorrando aos litros, está tudo aqui.
Mas Anne Rice, com seu Entrevista com o Vampiro, dá uma passo adiante, como todo grande escritor. Preserva os elementos essenciais do mito (a promiscuidade, a luz solar, as estacas, a mórbida alvura) e adiciona um elemento dramático e humano, imortalizado no conflito de Louis e no cinismo de Lestat. Os vampiros não são mais só demônios sexuais, mas amaldiçoados a uma existência horrenda, presos a um anacronismo eterno e sobretudo, condenados a danação sem fim de se alimentarem e invejarem a vida daqueles que um dia amaram. Louis e Lestat, portanto, tornam-se a metáfora dos conflitos internos da alma do homem ocidental, amaldiçoado como eterno pecador por um lado, e por outro se entregando a promiscuidade destrutiva, amoral, sem qualquer empatia ou remorso pelo outro.
E qual desses elementos nosso Edward, vampiro de Sapucaí, preserva? Com toda certeza, nenhum, caros leitores...
(continua...)
Exeunt
1 comentários:
continua esse texto! ^^
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