sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Mais literatura nos games.


Já comentei aqui, neste gênero textual internético, a respeito dos novos rumos e tendências da indústria dos jogos eletrônicos e a possibilidade de obras literárias serem adaptadas aos jogos. Mas a questão literatura e games foi pouco discutida, problema que pretendo contornar um pouco nesse tópico.

Talvez boa parte de vocês, gamers letrados, já devem saber do projeto da Eletronic Arts, Dante's Inferno, que colocará nas suas mãos o controle do poeta épico toscano em sua viagem pelos nove círculos do inferno. Mas se acham que esta será, como no poema, uma experiência guiada em primeira pessoa (palavra bonitinha pra shooter on rails depois do Dead Space Extraction), onde vocês jogadores apenas assistirão os tormentos do inferno , enganam-se: a primeira cena, descrita pelos desenvolvedores da EA ao jornalista do Kotaku, é narrada como "envolvendo Dante, um guerreiro delgado vestido de armadura e empunhando uma espada enorme, despachando um grupo de inimigos não descritos espremidos no barco atravessando o rio Estige para as praias e portão do inferno." Ou seja, nosso herói não sairá pelo inferno distribuindo alexandrinhos, mas sim boas e truculentas espadadas.

O problema é: e se o game, no fim, utilizar a ambientação apenas como uma estratégia para atrair o jogador? A possibilidade deste jogo se tornar um primo pedante de Devil May Cry existe. Mas, segundo Johnathan Knight, produtor executivo do jogo, os desenvolvedores estão trabalhando para que cada um dos nove círculos do inferno ofereçam mecânicas e jogabilidades diferentes, associadas a cada um dos "castigos" de cada círculo.


É isso que você vai ver quando abrir o mapa


O que me interessa não é nem o jogo em si, mas a expectativa de como a tradução da obra literária vai ser feita pro jogo. O cinema é rico de boas adaptações da literatura (não estou falando de Crepúsculo, diga-se de passagem), ao passo que os games praticamente desconhecem o campo. Eu mesmo não consigo citar um game que seja baseado em uma obra. E é justamente por isso que eu estou animado com Dante's Inferno, pois eu estou curioso para ver como a experiência da literatura será traduzida para os video games. Digo traduzida, uma vez que literatura e video game, assim como cinema, são linguagens diferentes, o que demanda justamente uma tradução. Isso justifica a escolha de transformar Dante em um Cloud mais quixotesco, pois o video game, como linguagem (e restrito pelo gênero, no caso do jogo, um jogo de ação e aventura) tem suas formas de interagir com o leitor/jogador e gerar significado. Agora, isso não implica em dizer que, em detrimento das formas de significar do video game, os desenvolvedores devam perder a obra do poeta toscano de vista. É justamente nesse ponto que nós, jogadores e críticos literários que somos, devemos ficar atentos. A Divina Comédia é um livro que fala dos vícios, virtudes e redenção, e essa experiência deve ser traduzida para os consoles. Se o cinema, ao adaptar as obras de maneira majestosa, nos instiga a buscar a literatura, caso Dante's Inferno cumpra o que está prometendo, adaptar uma obra literária para os games, aquela realidade do cinema com certeza virá, com muito mais volume para os consoles.

0 comentários:


Layout by Ledah.